Nome atribuído a um conjunto de 22 moinhos de rodízio construídos em xisto e cobertos de ardósia, dispostos em carreira e abastecidos pelo lendário “Rego do Boi”. O Rego do Boi tem cerca de 2,5 km e é alimentado pelo ribeiro de Bustelo; constitui um dos primeiros transvases entre duas bacias hidrográficas, conduzindo a água da bacia do Ardena para a bacia da ribeira das Aguieiras. A carreira de moinhos de Alvarenga data do século XVIII e está localizada no município de Arouca, constituindo caso único no país, tanto pelo número de moinhos, como pela levada que passa a água de um vale para o outro. O aproveitamento em cascata da água da levada é uma obra de engenharia de grande envergadura, fruto do engenho do povo. Atualmente, apenas dois destes moinhos se encontram em funcionamento, mas uma boa parte foi alvo de obras de restauro. A verdejante freguesia de Alvarenga em muito deve a esta obra já que, depois de servir a carreira de moinhos, a água é aproveitada para regadio.
Nos lameiros do ribeiro de Bustelo, e no planalto de Alvarenga, as pastagens multiplicam-se, constituindo local de eleição para a criação da vaca arouquesa que resulta no muito afamado bife de Alvarenga. O melro-de-água nidifica nas pequenas quedas de água do ribeiro, e as salamandra-lusitânica e toupeira-de-água comprovam o excelente estado de conservação destes ecossistemas. No alto da serra, blocos de granito multiplicam-se numa profusão de formas curiosas e, ali perto, nos arrelvados húmidos, a arnica, planta de grande valor medicinal, forma mantos de amarelo profundo. Perto da carreira de moinhos podemos observar a bela borboleta-zebra e o sapo-comum, acompanhados lá do alto pela águia-de-asa-redonda.
A lenda do Rego do Boi
“No meio da serra da Franqueira nasce um rio de pouca memoria que passa pelo fundo do lugar de Noninha, e continua o seu curso junto do lugar de Bustelo, e no fundo das terras deste lugar há tradição nesta terra de Alvarenga que os seus habitantes tiraram a ágoa do tal rio em uma noite, por recearem que os habitantes do vale de Nespereira lho impedicem, e chama-se a tal rego o Rego do Boi, por se dizer que comeram um boi na noite que a tiraram, dista desta terra de Alvarenga hum quarto de légua, isto é o aqueduto e o seu nascimento é quase uma légua, fertiliza este vale com água, que é o que a faz fértil de pão e vinho, e com a mesma água ao mesmo tempo faz moer vinte e três moinhos, tanto de Verão como no Inverno.”
Transcrição da referência histórico-lendária do Rego do Boi, manuscrita em 1758, no livro “Memórias Paroquiais” do Padre Luís Vieira Tristão.