Junto à barragem Eng. Duarte Pacheco, o rio Caima reserva-nos uma surpresa de incomparável beleza: na margem esquerda da albufeira, uma pequena levada desenha-se entre as florestas frondosas, avançando sinuosamente para acompanhar o desnível certo para o fluir constante das águas. A levada, com pouco mais de 1 km, serve o regadio de Santa Cruz, e tem origem num pequeno afluente do Caima que desagua no poço do Pisão. O engenho do povo está patente nesta obra singular, que conduz a água das terras abruptas das margens do Caima para as terras de milho, de menor inclinação, que rodeiam o povoado de Santa Cruz. Esta levada em nada fica a dever às levadas da Madeira e proporciona, nos dias mais quentes, um passeio à sombra do carvalhal, acompanhado pelo correr teimoso das águas límpidas deste rio de montanha.
Fetos diversos aproveitam a inesperada humidade proporcionada pela levada para crescer e prosperar. O saboroso cantarelo espreita aqui e além com o seu colorido e intenso laranja a sobressair no verde omnipresente. O lagarto-de-água e a rã-ibérica fazem da levada o seu território de caça de eleição, e o selo-de-salomão, o hipericão-do-gerês, o azevinho e o mirtilo selvagem são alguns dos exemplos da flora excecional deste pequeno paraíso. Na albufeira podemos observar, com sorte, a lontra brincalhona que cria nas margens bem florestadas do Caima. A montante da barragem, a comunidade de ictiofauna é essencialmente constituída pelo barbo e pela boga. Verifica-se ainda a presença de algumas trutas, embora menos abundantes.
Situada no rio Caima, à cota de 365 metros, a barragem Eng. Duarte Pacheco é constituída pelo plano de água e a envolvente florestal. Conhecida localmente como barragem do Castelo, mas oficialmente designada com o nome do Ministro das Obras Públicas de então, foi mandada construir pela Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, em agosto de 1936, e concluída em dezembro de 1942. É uma obra do Estado Novo que tinha como finalidade regularizar o caudal do rio, aumentar a rentabilidade agrícola dos campos de Burgães, e intensificar a indústria de lacticínios, através da criação de prados permanentes.