Entre a garganta do Paiva e a aldeia de Paradinha, num pequeno corgo onde afloram cristas quartzíticas formadas há cerca de 480 milhões de anos, podem-se observar os icnofósseis de Cabanas Longas, que testemunham a passagem de artrópodes, hoje extintos pelas areias dos baixios dos oceanos. Os responsáveis por estes trilhos fossilizados foram, muito provavelmente, as trilobites, grupo hoje extinto mas que persistiu na Terra durante o Paleozóico. Os icnofósseis, também denominados Cruziana, são pistas de alimentação e locomoção das trilobites. Em Cabanas Longas podem-se observar diferentes espécies de Cruziana, cada uma associada a um comportamento alimentar distinto. De destacar algumas pistas de Cruziana rugosa com mais de 20 cm de largura e 1 metro de comprimento, correspondentes à passagem de espécimes de grande envergadura por este local, num passado muito remoto.
Não longe dos icnofósseis de Cabanas Longas, a aldeia de Paradinha, galardoada com o selo das Aldeias de Portugal®, permanece orgulhosa junto ao Paiva, com as suas casas construídas em xisto e ardósia, harmoniosamente fundidas com a natureza envolvente. Do outro lado do rio, a foz do Paivô guarda um adernal de grande beleza, onde o aderno, a murta, o medronheiro e o hipericão-do-gerês marcam presença. O rio Paiva, conhecido pelas suas trutas, é também o habitat de espécies protegidas como a libélula macrómia, a rã-ibérica e o mexilhão-de-rio. Nas escarpas acantiladas, a maceróvia-peluda encontra abrigo, e o falcão-peregrino faz ecoar os seus gritos de alarme.
As trilobites, parentes afastadas dos crustáceos atuais, foram as principais representantes dos artrópodes (grupo a que também pertencem, por exemplo, os caranguejos e os insetos) nos mares do Paleozóico. Estas dominaram todos os ambientes marinhos, de uma forma similar ao domínio exercido pelos dinossauros durante o Jurássico e o Cretácico, e eram de tal modo abundantes (estima-se que tenha havido 15.000 espécies de trilobites), que esse período de tempo geológico foi chamado “Era das Trilobites”. Com origem há 540 milhões de anos, nos primórdios da vida multicelular, as trilobites extinguiram-se há 250 milhões de anos, na maior extinção em massa de que há memória na vida da Terra; no fim do Pérmico, 95% das espécies marinhas desapareceram, entre as quais as últimas trilobites. O auge deste grupo deu-se no fim do Câmbrico e início do Ordovícico, contando-se cerca de 60 famílias de trilobites neste período.